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2005-11-23

Lobos


 


São espécie protegida em Portugal. Amados por uns e incompreendidos por outros. No entanto, não deixam de exercer o seu fascínio em virtude das suas capacidades furtivas, resistência, astúcia e desprezo pelas regras da sobrevivência. Conseguem persistir contra o maior dos predadores, aquele que quase os levava à extinção. Portugal despertou para os lobos verdadeiros e encarou a sua protecção como um imperativo do país natural. Falta fazer o mesmo para os lobos a que se reporta este texto, a nossa selecção nacional de rugby.
Despertei para este desporto pelas competições de selecções que acontecem todos os anos e que, na minha opinião não têm paralelo no desporto colectivo mundial. Os campeonatos Europa e do Mundo de futebol, acontecem de quatro em quatro anos, mas todos os anos temos o torneio das seis nações na Europa, para além do espectacular torneio das Três Nacões, onde se enfrentam as potências do hemisfério Sul: Austrália, África do Sul e Nova Zelândia. Apesar disso o rugby ou rugbi também tem o seu mundial, precisamente a competição para a qual Portugal disputa o apuramento. Depois de na semana anterior ter vencido, pela primeira vez na sua história, o Uruguai – segunda selecção mais poderosa da América do Sul – Portugal defrontou as Ilhas Fidji, em Lisboa. Os menos familiarizados com o desporto pensarão: “Ilhas quem?!”. Amigos, este conjunto de ilhas representa a nona potência do ranking do International Rugby Board!
Portugal perdeu. No entanto, fez um jogo extraordinário perante uma equipa de profissionais, treinada por aquele que foi considerado, em tempos, o melhor jogador mundial de sevens. No domínio da liderança das equipas, a partir do banco, Portugal tem um treinador que só encontra paralelo no futebol com José Mourinho. Arrisco a comparação sem temores. De alguma forma admiro ainda mais o trabalho do seleccionador Morais. Levar uma equipa a ser campeã da Europa B, ao pódio de mundiais de sevens, num desporto sem estruturas profissionais, com baixo campo de recrutamento, com um campeonato nacional ainda muito centrado nas equipas universitárias, é um facto extraordinário. Logo num desporto que os portugueses, na sua grande maioria, ainda considera um jogo de brutos. Á custa de muito trabalho táctico, espírito de sacrifício, treinos militares com fuzileiros, Tomás Morais construiu uma equipa que tem na sua capacidade de sofrimento a maior virtude. Assim sendo não estranhei ver Portugal, na fase final do jogo, a pressionar as ilhas Fidji, cujos jogadores ressentiam-se de dores musculares, perante a nossa selecção de estudantes, veterinários e outros doutores, que apenas tinham conseguido ter um treino de conjunto durante a semana que antecedeu o embate.
A 5 minutos do final Portugal perdia por 19-17, bastando apenas uma penalidade para passar para a frente. A penalidade apareceu, mas Pedro Leal não conseguiu colocar a oval entre os postes, a mais de 45 m de distância! Era realmente muito longe, mas Portugal tinha-o conseguido contra o Uruguai. Desta vez não foi possível e Portugal não passou para frente e sofreu um ensaio nos minutos finais que colocou o resultado em 26-17. O mais extraordinário foi ver a eficácia de Portugal a defender no interior da sua área de 22 m, a recuperar a posse de bola mesmo em cima da sua linha de ensaio, e a marcar ensaios empurrando a defesa através do seu pack avançado, contrariando assim aquele que foi sempre um dos defeitos das selecções nacionais. Apenas nos alinhamentos Portugal não conseguiu equilibrar a contenda, permitindo que os gigantes fidjianos conquistassem posses de bola e provocassem alguns desiquilíbrios em contra-ataques rápidos jogados à mão.
Portugal fez um jogo imenso, com coração e muita inteligência, e uma equipa repleta de heróis onde ainda por cima faltaram alguns jogadores influentes como Gonçalo Malheiro.
Bem sei que este não será o local indicado para o dizer, mas que pena que em Portugal a ditadura do futebol ainda comande de forma tão avassaladora. Esta selecção vai para três/quatro anos para jogar no estrangeiro tinham que ser os seus jogdores a pagar as deslocações… Espantoso não é?! Imaginem o que faria esta equipa se tivesse como apoio os 25% que o Estado Português “investiu” num dos estádios do Euro 2004… Se a lógica de distribuição de subsídios é através dos resultados obtidos do que está à espera o país?


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